Diário do Chicó #6

  Severino, o cangaceiro, invadiu a Igreja e roubou a todos, sorte que pouco tinham o que me roubar além de minha dignidade, porque além de pobre, eu sou medroso e, provavelmente, teria sido o primeiro a desmaiar se não fosse o Bispo quem o fez. Mas levantou a tempo de ouvir o cangaceiro anunciar a futura morte de todos.
   E como anunciado, eu mal acreditando não consegui expor minha opinião na hora, matou o Bispo, o Padre, o Sacristão, o Padeiro e sua mulher.
   Chega a vez de João Grilo, e ele inventa uma história de gaita benta (como se já não bastassem o cão e o motor), e diz que essa gaita renasce um homem e como prova vai me apunhalar e depois reviver.
    Não mesmo, eu disse que não e não e não. Mas ele apunhalou do mesmo jeito, só que apunhalou no lugar onde estava a bexiga do cachorro. E foi justamente nesse momento em que eu entendi.
    Ele tocou a gaita e eu "renasci".
    Severino ficou encantado com a ideia de poder ver Padre Cícero, e pede para o outro cangaceiro dar-lhe um tiro. Com Severino morto, Grilo apunhala o outro cangaceiro enquanto eu o segurava. Estava morto também.
   Liberdade e dinheiro, era isso que Grilo queria e agora ele tinha, mas nem tudo são rosas, o cangaceiro ainda estava vivo, e morrendo deu um tiro em João Grilo. E nessa carnificina toda só sobrou a mim. 




 A partir daí não tenho mais o que dizer, perguntem ao João Grilo, ele diz que houve um julgamento onde ele viu Manoel, Compadecida, Diabo e Encourado. Deus me livre. Eu acho que é tudo mentira, mais uma invenção dele. Não sei como ele voltou, mas deve ter sido um truque. Não sei, só sei que foi assim.